19 Mai 2022
No dia 16 de maio, o Sínodo da Igreja Ortodoxa Sérvia abriu o caminho para a solução do cisma da Ortodoxia da Macedônia do Norte.
A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada em Settimana News, 17-05-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em um comunicado oficial, ele confirma para a Ortodoxia sérvia a abertura já formulada em 1959 para um status canônico de ampla autonomia, “com a plena independência interna”. Uma vez que desapareceram as razões da dissidência que eclodiu em 1967, em plena era comunista, “instaura-se uma plena comunhão litúrgica e canônica”.
“O diálogo sobre o futuro e sobre o eventual status final das dioceses na Macedônia do Norte não é apenas possível, mas também realizável, legítimo e realista.”
O Sínodo não pretende impor nenhuma condição restritiva à jurisdição da Igreja macedônia, senão a simples recomendação de resolver a questão da denominação em comum acordo com as Igrejas da Grécia. Um parágrafo parece visar ao antecipado reconhecimento de Constantinopla, atestando que o estatuto definitivo deve se ater às indicações canônicas e eclesiológicas, e não a outros estímulos de tipo “geopolítico”.
A decisão do Sínodo foi tomada no dia seguinte à celebração do centenário da fundação do patriarcado ortodoxo sérvio, a grande obra de unificação realizada em 1920 pelo regente Karadjordjevic.
A unidade do reino dos sérvios permitiu a unificação canônica e administrativa que a abolição do patriarcado de Pec em 1766 havia destruído por séculos. Dois anos depois, em 1922, o patriarcado também recebeu o reconhecimento de Constantinopla.
A atual decisão do Sínodo inicia a solução da disputa macedônia, sem especificar nem a forma jurídica definitiva nem o futuro do bispo João (Vraniškovski), que até agora representava a Igreja Ortodoxa Sérvia na Macedônia. Com surpreendente (e para alguns suspeita) pontualidade, no dia 9 de maio, o Sínodo do Patriarcado de Constantinopla ofereceu a comunhão eclesial à Igreja Ortodoxa da Macedônia do Norte.
O comunicado oficial afirma “receber na comunhão eucarística a hierarquia, o clero e o povo dessa Igreja sob a autoridade do arcebispo Estevão”; confiar o regulamento das questões administrativas ao diálogo direto com a Igreja da Sérvia; reconhecer como título oficial “a Igreja de Ohrid” (antiga sede metropolitana), excluindo o uso do termo “macedônio” ou “Macedônia”.
O reconhecimento de Constantinopla ocorre poucos dias após o encontro confidencial entre a delegação sérvia (com o Patriarca Porfírio) e a hierarquia macedônia em Skopje, que lançou as bases para o entendimento.
A reação da opinião pública sérvia, liderada por um sentimento nacionalista e pró-russo generalizado, é bastante positiva, embora seja muito crítica em relação ao antecipado reconhecimento de Constantinopla. A questão é sérvia e deve ser resolvida na Sérvia.
Afinal, essa é a opinião do patriarca sérvio Porfirio, que, em uma entrevista de 8 de janeiro passado, disse: “Expresso a minha convicção pessoal de que o único caminho certo a seguir para obter uma solução permanente (para o cisma) é o caminho de Skopje (capital da Macedônia) para Belgrado, ou de Belgrado para Skopje”.
Nas palavras do hierarca, está a preocupação não só de conter as pretensões de Bartolomeu I de Constantinopla, mas também de relativizar a incômoda tutela de Moscou.
A Macedônia, uma das seis ex-repúblicas da federação iugoslava de Tito, chegou à independência em 1991. Poupada da guerra civil de 1992, é candidata à entrada na União Europeia desde 2005 e pertence à Otan desde 2017. Resolveu os conflitos geográficos com a Bulgária em 2017 e, em 2019, aplainou a contenda com a Grécia, aceitando se qualificar como República da Macedônia do Norte.
Do ponto de vista eclesial, a sua autonomia conflitante remonta a 1967. Representa um 1,5 milhão dos 2,4 milhões de habitantes. Em 2002, a solução para o cisma parecia ao alcance das mãos com o reconhecimento de uma ampla autonomia por parte da Igreja sérvia. Mas, apesar da mediação de Bartolomeu I, não se chegou à conclusão devido às pressões contrárias da política local.
Os diálogos com Constantinopla continuaram. O poder político entendeu a importância de resolver o cisma para facilitar as relações internacionais do pequeno Estado. Em 2017, a Igreja local tentou obter a autocefalia unindo-se à Igreja búlgara. Em 2019, os diálogos com Belgrado foram reabertos. Enquanto isso, continuou a pressão sobre Constantinopla, sempre em relação ao pedido de autocefalia.
O anúncio da comunhão renovada teve o apreço do Sínodo da Igreja Macedônia e o pleno apoio do governo local de Dimitar Kovacheski. Ainda não há reações oficiais da Igreja grega, que não quer a indicação de uma Igreja “macedônia” para a Igreja vizinha, já que a Macedônia é uma área interna da Grécia. Uma apreciação pela Igreja sérvia, mas também duras críticas ao reconhecimento de Constantinopla vieram da Igreja búlgara e da Igreja russa.
A Igreja búlgara, que em 2017 inicialmente havia aceitado reconhecer a autocefalia macedônia e depois voltou atrás, não está disposta a conceder a Constantinopla a palavra final sobre a autocefalia. O metropolita Gabriel i Lovetch afirmou que o movimento de Bartolomeu irá agravar os problemas internos da Ortodoxia, observando que qualificá-la como “Igreja de Ohrid” significa ferir a Igreja búlgara, que é a sua herdeira.
As reações russas foram muito mais duras. Leônidas de Klin, novo eparca das dioceses ortodoxas russas na África, I. Yakimtchouk, secretário do Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou, e N. Balashov, vice-presidente do mesmo departamento, falaram de uma grosseira intrusão anticanônica politicamente conotada por parte de Constantinopla.
Mas o fato de o Metropolita Estêvão da Igreja macedônia ter aceitado de bom grado celebrar a festa Pentecostes com Bartolomeu no Fanar (12 de junho próximo) fala do interesse tanto eclesial quanto político da Macedônia de manter vivas as relações com Constantinopla.
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Macedônia: o cisma que começou a ser resolvido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU